José
Jacson fazia pequenos shows no interior de Pernambuco quando entrou na onda da
pisadinha com o nome artístico Zé Vaqueiro. Ele despontou ao compor um hit
famoso na voz de Jonas Estilizado, “Vem me amar”, seguido de versões na própria
voz, como “Letícia”.
Wesley também fazia pequenos shows no interior
de Per
nambuco quando
entrou na onda da pisadinha com o nome artístico Zé Vaqueiro. Ele
despontou ao compor outro hit famoso na voz de Jonas Estilizado, “Investe em
mim”, seguido de versões na própria voz, como “Libera ela”.
Ambos dizem que não sabiam da existência do
outro ao escolher o nome, se conheceram e até beberam juntos. Wesley pôs
o complemento “Estilizado” no nome para diferenciar. Eles trocam
elogios, mas disputam o registro do nome no Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI).
O sucesso rápido dos dois Zés Vaqueiros mostra
como o piseiro está aquecido: o forró feito no teclado, também chamado de pisadinha, se
espalha pelo Brasil. O estilo exalta festas no chão de terra e
outros temas do interior – universo em que o nome Zé Vaqueiro se encaixa bem.
Os dois passaram rapidamente de vídeos
caseiros com pouca repercussão a clipes vistos milhões de vezes no YouTube. Até
o início de 2020, estavam em patamar semelhante de sucesso. Era difícil
até comparar: no Spotify, o perfil Zé Vaqueiro misturava músicas dos dois
cantores.
Mas nos últimos meses José Jacson
disparou: emplacou “Letícia”, que chegou ao 2º lugar no ranking nacional de
músicas mais ouvidas do YouTube, e assinou contrato com a Vybbe, nova produtora
do poderoso Xand Avião.
Wesley tem
menos sucesso e até teme perder o direito ao nome. Na internet, os primeiros
registros musicais usando o nome encontrados pelo G1 são de
José Jacson. Wesley foi o primeiro a tentar fazer o registro no INPI, mas até
agora não recebeu decisões favoráveis do instituto.
Quem é José Jacson, o Zé Vaqueiro de ‘Letícia’?
José
Jacson, o Zé Vaqueiro que canta o hit ‘Letícia’, compôs ‘Vem me amar’, hit na
voz Jonas Estilizado, e assinou com o novo escritório de Xand Avião — Foto:
Divulgação
José
Jacson de Siqueira dos Santos Júnior tem 21 anos e nasceu em Ouricuri, no
sertão pernambucano. A mãe, Nara, era cantora de forró. “Desde pequeno, na
barriga mesmo eu já vinha nesse ramo da música”, ele conta.
Trabalhou
vendendo sorvete, na barraca de lanche da avó, e em um lava-jato, enquanto
cantava em pequenas festas e tentava engatar a carreira. Aos 18 anos, se animou
com o sucesso do piseiro e gravou o primeiro álbum caseiro como Zé Vaqueiro.
Além de cantar, queria escrever.
“Meu
tio é poeta. Aí eu perguntei para ele: ‘Tio, como eu faço para compor?’ Ele
falou: ‘Rapaz, você tem que colocar no papel o que está sentindo aí.’ Aí eu
peguei um caderno antigo do governo, do tempo que eu estudava na escola
estadual.” Uma das primeiras composições, “Vem me amar”, deu certo.
“Eu
falei: rapaz, como que uma música que eu fiz ali sentado no sofá de casa, no
caderno do governo, tá rodando o Brasil? Isso aí eu nunca esqueci, sabe?”, diz
Zé Vaqueiro.
Mas ele ainda não tinha tanta estrutura, e
“Vem me amar” acabou ficando mais conhecida na voz de Jonas Esticado, outra jovem estrela do forró, apadrinhado
por Gusttavo Lima.
Zé também escreveu “Se você se
entregar”, que tocou em muitas festas de piseiro, na voz dele mesmo. Mas os
maiores sucessos vieram depois, com composições de terceiros: primeiro foi “O
povo gosta de piseiro”, parceria com Eric Land.
No
segundo semestre de 2020 vieram os sucessos que o fizeram despontar de vez:
“Tenho medo” e “Letícia”. A segunda tem um refrão dramático:
“Letícia,
Letícia / Pra onde você vai com aquele mototaxista?”.
“Letícia”
ainda tem um novo tipo de publicidade no pop brasileiro: o anúncio em versos. A
música cita uma marca de vinhos. Zé Vaqueiro explica que ela não estava na
letra original, e que foi incluída depois de um acordo, sem abrir o valor.
Gusttavo Lima, por exemplo, já ganhou R$ 1
milhão para exaltar uma marca de uísque em “Zé da recaída”, como revelou o G1. Não se sabe o valor pago em
“Letícia”, mas a recompensa para a marca foi grande: o clipe gravado em um bar
de Fortaleza já foi visto mais de 70 milhões de vezes.
Quem é
Wesley, o Zé Vaqueiro Estilizado, de ‘Investe em mim’?
Wesley
dos Santos Vieira, o Zé Vaqueiro Estilizado, compositor de ‘Investe em mim’,
que gravou em parceria com Jonas Estilizado — Foto: Divulgação
Wesley
dos Santos Vieira tem 22 anos e nasceu em Lagoa Grande, no sertão pernambucano
– a 125 km de Ouricuri e 655 km de Recife.
Desde
os 15, ele escreve músicas e canta, mas começou no forró misturado com arrocha,
sempre com canções de amor. “Sou muito fã do estilo romântico”, conta. Ele
passou por várias bandas pequenas e shows em barzinhos, ainda com o nome
artístico Wesley Santos.
Ele entrou mais cedo no mercado da composição.
Escreveu dois sucessos na voz do ídolo sergipano Unha Pintada. O maior foi “Dono
da bodega”, em 2018. Depois veio “Amor forçado”, em 2019.
Ele
já tinha mais de moral no mercado quando passou pelo mesmo dilema do outro Zé
Vaqueiro: viu uma música sua, “Investe em mim”, crescer e ser cobiçada por
Jonas Esticado. Em vez de só vender o direito de gravação, ele pelo menos
conseguiu um acordo: gravar em parceria.
Mas,
ao contrário do outro Zé Vaqueiro, o Estilizado não viu a sorte virar após ser
gravado por Jonas Esticado. Ele até reclamou do fato de ter gravado o dueto,
mas Jonas ter divulgado nas rádios outra gravação, sozinho.
Em
2020, Zé Vaqueiro Estilizado até gravou músicas em versões bem tocadas –
“Libera ela” (8 milhões de views) e “Some ou me assume” (3,5 milhões) -, mas
abaixo do patamar dos hits atuais do outro Vaqueiro.
A briga no INPI: de quem é o nome?
Registro
do nome “Zé Vaqueiro” no INPI pertence ao ex-empresário de José Jacson, Caique,
dono da empresa Pax Entretenimento — Foto: Reprodução
O
caso não é fácil. Mesmo com tantas informações escritas acima, o registro da
marca Zé Vaqueiro no INPI pertence a um personagem ainda não citado nesta
matéria. É Caique Candido de Souza Bezerra, ex-empresário de José Jacson.
Caique
pediu o registro da marca “Zé Vaqueiro” no dia 10 de setembro de 2019. No dia
17 de março de 2020, Wesley enviou uma oposição ao pedido de Caique, dizendo
ser o dono da marca. Mas no dia 24 de novembro de 2020 o INPI deu razão a
Caique e concedeu o registro a ele.
Eles
ainda brigam em outro caso anterior. No dia 17 de julho de 2019, Wesley pediu o
registro da marca “Zé Vaqueiro Estilizado”. No dia 28 de outubro de 2019,
Caique se opôs ao pedido de Wesley no INPI. O instituto ainda não deu a decisão
sobre este caso.
Registro
da marca “Zé Vaqueiro Estilizado” foi pedido por Wesley, mas está em aberto no
INPI — Foto: Reprodução
Em
resumo, Wesley tentou, mas não ganhou o direito à marca “Zé Vaqueiro”. Ela
pertence a Caique e provavelmente será repassada ao escritório de Xand, que
agora agencia José Jacson. Wesley quer pelo menos continuar a usar o nome “Zé
Vaqueiro Estilizado”, mas espera a decisão.
Quem postou primeiro?
Wesley disse ao G1 que usou
pela primeira vez o nome Zé Vaqueiro em shows em 2014, mas que não fez nenhum
registro, por ser menor de idade, nem postou nada na web. José Jacson diz que
começou a usar o nome em 2018, e há registros na internet que corroboram com a
história.
O G1 buscou nos sites YouTube
e Sua Música (especializado em forró), e os materiais mais antigos encontrados
com o nome Zé Vaqueiro são ambos de José Jacson, em julho de 2018.
Em
julho de 2018 já havia registro do Zé Vaqueiro José Jacson no YouTube — Foto:
Reprodução
No
perfil oficial de Zé Vaqueiro Estilizado no Facebook, ele se apresentava apenas
como o cantor Wesley Santos até março de 2019.
No
dia 12 de abril de 2019, Wesley fez um post dizendo: “Novo projeto vem aí. Uma
nova etapa da minha vida.” No dia 13 de abril, ele divulgou uma música se
identificando como Zé Vaqueiro, e um mês depois, como Zé Vaqueiro Estilizado.
O
anúncio do “novo projeto” e os primeiros posts no Facebook se identificando
como Zé Vaqueiro foram feitos por Wesley, portanto, nove meses depois dos
primeiros registros de José Jacson.
Ao ser questionado, Wesley enviou ao G1 postagens
dele de 2017 que citavam o nome Zé Vaqueiro, o que poderia indicar que ele já
usava este nome artístico. Mas os textos antigos foram editados por ele em
2020.
Um post
original de 2017 dizia “família WS”, (de Wesley Santos). Ele editou em 2020 o
texto para “família zé piseiro” antes de mandar os links para o G1.
Wesley
enviou ao G1 links dizendo que ele já se identificava como Zé Vaqueiro em 2017.
Mas o texto foi editado. No original, ele dizia ‘família WS’ (sigla de Wesley
Santos). Em 2020, ele editou o texto para ‘família zé piseiro’, nome que ele
não usou no post original — Foto: Reprodução / Facebook
O contato pessoal: cerveja e farpas
Se a situação é difícil agora, no começo de
2020 era ainda pior. No Spotify, principal plataforma de streaming pago, havia
apenas um perfil de artista com o nome Zé Vaqueiro, e músicas dos dois
misturadas. Wesley disse ao G1 em fevereiro que
não sabia quem tinha cadastrado.
Wesley
contou que tinha conhecido José Jacson e que eles se deram bem. “A gente
conversou, já almoçou junto, tomou cachaça, aqui em Lagoa Grande. Foi de boa”,
disse na época.
José
Jacson (esquerda) e Wesley (direita), respectivamente o Zé Vaqueiro e o Zé
Vaqueiro Estilizado, chegaram a se encontrar e beber juntos em julho de 2019,
em Lagoa Grande (PB). Eles até conversaram sobre fazer uma parceria, que nunca
se concretizou — Foto: Reprodução / Facebook
“Eu
fico feliz demais por a gente ser praticamente da mesma região. Da minha cidade
para a dele não dá nem 200 km. Somos duas pessoas novas, de Pernambuco, dois
sonhadores que graças a Deus deram certo. Não tem atrito nem rivalidade”, disse
o Zé Vaqueiro Estilizado em fevereiro.
“O nome Zé Vaqueiro é muito comum no Nordeste.
Não me surpreende a coincidência”, ele disse. O cantor disse ainda que já tinha
achado outros cantores com este mesmo nome, com carreiras bem menores, em
outras cidades do interior.
Em fevereiro, o G1 tentou entrevistar Caique e José
Jacson, mas não teve resposta após diversas mensagens enviadas.
Em novembro de 2020, após o estouro de “Letícia” e do contrato com a
nova produtora, a assessoria de imprensa do artista procurou o G1 para
marcar uma entrevista sobre o sucesso dele.
Na conversa, José Jacson
confirmou a história de que se encontrou pessoalmente com Wesley, que eles
beberam juntos e se deram bem.
“Não
tenho nada contra ele, gosto do trabalho, é uma pessoa muito gente boa. Tanto
Zé Vaqueiro quanto Zé Vaqueiro Estilizado, graças a Deus os dois vêm dando
certo”, disse José
Jacson.
Ao ser procurado novamente, Wesley se mostrou mais preocupado do que no
início do ano. Ele acredita que a convivência paralela, com o uso do
“Estilizado” por ele, pode ser questionada.
Wesley se incomodou com o fato de o novo disco
do outro Zé Vaqueiro se chamar “Original”. “Se ele realmente fosse o
original não precisava ficar falando isso”, ele alfinetou. E reafirmou: “Eu fui
o primeiro”.
“Vai estourar alguma bomba aí”, prevê Wesley,
pessimista sobre o resultado da análise do INPI. Ele já perdeu no caso do
registro de “Zé Vaqueiro” e pode perder também o direito ao “Zé Vaqueiro
Estilizado”.
Ele acha que
o novo escritório do outro Zé Vaqueiro pode ser mais incisivo na oposição ao
seu registro. “Ele entrou em uma empresa que tem muito dinheiro”, diz Wesley
sobre José Jacson.
Por enquanto, a única coisa certa é o
sucesso dos dois jovens de vinte e poucos anos que há pouco tempo faziam
pequenos shows no sertão e hoje têm sucessos nacionais em ritmo de pisadinha.
Portal de Noticias G1
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