Mães de Anjos: Veja como mães transformam a dor da perda dos filhos em solidariedade no Sertão

Ação realizada por mãe do grupo 'Anjos do Vale' (Foto: Arquivo pessoal/ Mara Cristina )Ação realizada por mãe do grupo 'Anjos do Vale' (Foto: Arquivo pessoal/ Mara Cristina )
Ação realizada por mãe do grupo 'Anjos do Vale' (Foto: Arquivo pessoal/ Mara Cristina )
É bem comum usar o termo ‘dar à luz’ no momento de nascimento de um bebê. A expressão significa que a partir daquele momento nasce uma criança, mas além de um novo ser, surge também uma nova mulher, a mãe. O segundo domingo de maio é dedicado a elas, as mães, que mesmo quando perdem seus filhos continuam preservando esse amor incondicional. No Vale do São Francisco, duas supermães transformam a dor em solidariedade e mostram que ser ‘mãe de anjo’ é ter ainda uma tarefa que vai muito além do cuidado com o círculo familiar.
Marcos faleceu aos 15 anos depois de complicações decorrentes da Aplasia Medular (Foto: Arquivo pessoal/ Mara Cristina)Marcos faleceu aos 15 anos depois de complicações decorrentes da Aplasia Medular (Foto: Arquivo pessoal/ Mara Cristina)
Marcos faleceu aos 15 anos depois de complicações decorrentes da Aplasia Medular (Foto: Arquivo pessoal/ Mara Cristina)
Há um ano, a jovem Mara Cristina Silva Batista, de 25 anos, acompanhou a luta do filho, Marcos Reidner, contra uma doença rara chamada aplasia medular, que, infelizmente, terminou no óbito do adolescente, que tinha 15 anos. Diante da dor, a mãe dedicou os seus dias a filha caçula Ester Cristina, de nove anos. Contudo, os instintos maternos guiaram Mara a querer fazer algo maior, que ajudasse a ela e outras mães a superarem a dor.
Segundo Mara, ela começou a conversar no Whatsapp com uma outra mãe, que tinha perdido também um filho. “A gente conversava no privado para falar sobre as nossas dores e trocávamos orações. Quando a gente cuida da dor do outro, a gente cuida da nossa, mas eu sentia que precisava botar a mente para trabalhar”, relata.
Grupo no Whatsapp 'Anjos do Vale' (Foto: Arquivo pessoal/ Mara Cristina )Grupo no Whatsapp 'Anjos do Vale' (Foto: Arquivo pessoal/ Mara Cristina )
Grupo no Whatsapp 'Anjos do Vale' (Foto: Arquivo pessoal/ Mara Cristina )
A partir disso, Mara entrou em grupos no Whatsapp com pessoas que foram acometidas pela mesma doença do filho. Com isso, surgiu a vontade de criar um grupo local. “Participei do grupo de Mães de Barretos que tiveram filhos com aplasia medular, mas eu queria um grupo que fosse de mães do meu convívio. Foi aí que surgiu o grupo ‘Mães do Vale’ e a gente foi colocando mulheres que perderam filhos no Vale do São Francisco, de diferentes formas, seja de assassinato ou por conta de doenças”, explica.
O grupo no Whatsapp ‘Anjos do Vale’ tem hoje 24 mães do Vale do São Francisco. A função do grupo é proporcionar apoio emocional a mães que estão de luto. Uma vez por mês é organizada também uma reunião presencial para planejar uma ação social na região. “Começamos o grupo apresentando nossos anjos e falando umas as outras o que ocorreu com cada um. E a cada mãe nova, a gente sempre está se apresentando e escutando o que elas tem a dizer. A gente indica um psicólogo, arrecada e distribui cestas básicas e enxovais para bebês”.
Em datas comemorativas como o Dia das Mães, o apoio do grupo torna-se essencial. “Na semana do dia das mães é o período que a gente fica mais corroída e só a gente para entender umas a outras".
" Mãe e filho é um laço de vida eterno. Este é o meu segundo ano sem meu filho. A parte boa do grupo é se ajudar a levantar. Temos mães que passam por depressão e síndrome do pânico. E só você parar para ser ouvida já é um presente”
No dia das mães, o presente das 24 mães será uma visita a uma maternidade. “Nesse dia a gente pretende se distrair. Quando estamos com as outras mães a gente não se sente só. Você perdeu um filho, mas ganhou aconchego e o colo uma das outras”, ressalta Mara.
Paulina Tenório fundou a Casa de Apoio Cleriane Tenório (Foto: Reprodução/ TV Grande Rio)Paulina Tenório fundou a Casa de Apoio Cleriane Tenório (Foto: Reprodução/ TV Grande Rio)
Paulina Tenório fundou a Casa de Apoio Cleriane Tenório (Foto: Reprodução/ TV Grande Rio)
Outra supermãe é Paulina Tenório Galindo, de 62 anos. Em 2016, ela inaugurou a Casa de apoio Cleriane Tenório que atende pessoas em tratamento de câncer. A unidade leva o nome da única filha, que faleceu em 2015, após enfrentar um câncer na mama. Cleriane tinha 37 anos e três filhos.
A ideia surgiu depois de acompanhar o tratamento da filha. “Quando eu passei com ela nos hospitais, eu me deparei com muita gente do interior da Bahia e de Pernambuco. Muitos vem para Petrolina vem fazer exames e às vezes a pessoa e a família não teve onde ficar. Uma vez eu cheguei a trazer uma pessoa para dormir na minha casa”, relembra.
Casa de Apoio ajuda a brigar pessoas e familiares durante o tratamento na região (Foto: Reprodução/ TV Grande Rio)Casa de Apoio ajuda a brigar pessoas e familiares durante o tratamento na região (Foto: Reprodução/ TV Grande Rio)
Casa de Apoio ajuda a brigar pessoas e familiares durante o tratamento na região (Foto: Reprodução/ TV Grande Rio)
A casa foi cedida Igreja Adventista e mobiliada através de doações. Hoje a casa de apoio consegue receber até oito pessoas por mês, além de proporcionar um espaço de acolhida, quando necessário, oferece as refeições diárias durante a estadia.
De acordo com Paulina, ter montado a casa e ajudar outras pessoas ajuda a enfrentar a dor. “É um refrigério, uma forma de conforto, sentir para que está fazendo bem a alguém, porque é uma luta tão grande. Já atendi mãe com os filhos, filhos com os pais. Eu me sinto bem de poder ajudar. É o mínimo que eu posso fazer para alguém”, revela.
Cleriane teve câncer de mama  (Foto: Reprodução/ TV Grande Rio)Cleriane teve câncer de mama  (Foto: Reprodução/ TV Grande Rio)
Cleriane teve câncer de mama (Foto: Reprodução/ TV Grande Rio)
Sobre o dia das mães, o presente dela é poder ajudar o próximo.
“Depois que uma mãe perde o filho, ela nunca mais é mesma, mas é um refrigério e a gente se sente melhor ajudando. Meu aniversário, no Dia das Mães, a gente lembra dela, mas eu procuro olhar em volta e ver o que pode ser feito pelo próximo. Enquanto eu viver aqui, eu quero viver só para fazer isso, ajudar”

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